Ferramenta foi lançada na atual gestão, mas começou a ser preparado no governo de Michel Temer. Além disso, Banco Central não sofre interferência do Executivo em seus projetos.
Na esteira do recuo do governo Lula (PT) da nova regra que aumentava a fiscalização do Pix, Jair Bolsonaro (PL) foi ao X (antigo Twitter) para criticar o que representaria um retrocesso para a população mais pobre e afirmou ter sido responsável pela criação da ferramenta de pagamento virtual.
“Em novembro de 2020, nós criamos o Pix via Banco Central, sem qualquer taxa. Você tinha que ir numa agência bancária e, via Ted ou Doc, fazer aquela transferência. Levava dias e você pagava. Com o Pix, você deixou de fazer qualquer pagamento. Os bancos perderam quase R$ 30 bilhões por ano, mas você ganhou, trabalhador informal ou não”, disse o ex-presidente.
“Ele [o governo federal] quer, de forma bastante clara, monitorar as pessoas. Ou seja, vai ter uma perseguição àquelas pessoas que eles acham que são inimigas do governo, do PT. (…) Já estamos trabalhando para que o Pix volte a ser o que ele foi até há poucos dias”, concluiu.
Afirmação é enganosa
O Pix não foi uma criação do governo Bolsonaro. Embora o lançamento tenha ocorrido em 5 de outubro de 2020, no segundo ano de mandato do ex-presidente, o método de pagamento era projetado por servidores do Banco Central desde 2016, na condição de uma autarquia autônoma. Na época, Michel Temer (MDB) era o presidente.
Ainda em 2016, Ilan Goldfajn, então presidente do BC, disse a jornalistas que a equipe monitorava as inovações internacionais em métodos de pagamento instantâneos. No mesmo ano, economistas do órgão publicaram um relatório sobre a adoção de ferramentas do tipo em outros países.
Em 3 de maio de 2018, o BC publicou uma portaria para instituir um grupo de trabalho para desenvolver uma ferramenta interbancária de pagamento instantâneo.
Em dezembro de 2018, um comunicado da autarquia estabeleceu as diretrizes de como funcionaria o desenvolvimento da ferramenta. “A diretoria colegiada do Banco Central do Brasil aprovou os requisitos fundamentais para o ecossistema de pagamentos instantâneos”, disse.
Em maio de 2022, na pré-campanha pela reeleição, Bolsonaro afirmou se responsável pela criação do Pix e foi corrigido pelo Sinal (Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central), que dissociou a ferramenta de qualquer governo.
Bolsonaro não sabia o que era Pix
No dia em que o Pix passou a funcionar no país, em 16 de novembro de 2020, um apoiador do presidente Bolsonaro, em frente ao Palácio da Alvorada, chegou a cumprimentá-lo com elogios à criação do Pix. Reportagem do UOL, com vídeo, mencionou o fato e o diálogo de ambos.
“Tem um documento aí [do Ministério da Infraestrutura] esta semana que vai praticamente desregulamentar, desburocratizar tudo sobre aviação civil… Carteira de habilitação para piloto”, disse o presidente em resposta ao apoiador.
Ficou claro que Bolsonaro desconhecia o que era o Pix. O apoiador esclareceu que a nova forma de transferência de dinheiro do Banco Central era usada para pagamentos 24 horas e que não precisava de DOC, nem de TED.
Bolsonaro então revelou que desconhecia o assunto. “Não tomei conhecimento, vou conversar esta semana com o Campos Neto [presidente do Banco Central]”, disse o presidente.
Em abril, Bolsonaro disse que não tinha aderido ao novo sistema de pagamentos. “Mais de 100 milhões tem Pix no Brasil. Eu não tenho, tô afim de fazer um aí. Cai dinheiro na conta da gente de graça? Se pedir o pessoal bota? Vou fazer meu Pix aí”, disse durante live transmitida nas redes sociais.
Também é enganosa a alegação de que o Pix tira bilhões dos bancos decorrente da cobrança de tarifas. Mesmo com a criação do novo modelo de pagamento, as instituições financeiras seguem lucrando. Em 2021, o primeiro ano com operação completa do Pix, a perda de receita com taxas foi menor que 2%, sobre um lucro recorde de R$ 81,6 bilhões – o maior em 15 anos.
Para o Comprova, enganoso é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
Alcance da publicação: O tuíte enganoso afirmando que Bolsonaro teria criado o Pix teve 2.189 curtidas e 404 compartilhamentos até o dia 29 de julho de 2022.
O que diz o autor da publicação: O Comprova tentou contato por meio de mensagem para o Twitter da conta do autor do post aqui verificado, mas até o fechamento desta verificação não houve retorno.
Como verificamos: O primeiro passo foi pesquisar no Google pelas palavras-chaves “Bolsonaro” + “Pix”. A consulta retornou uma série de reportagens sobre o assunto (Uol, IstoÉ Dinheiro, Estadão, Exame, O Globo). Também foram foram pesquisadas matérias jornalísticas sobre lucro e prejuízo dos bancos decorrente da implantação do Pix.
A reportagem ainda fez contato com o Banco Central e com o Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (Sinal). A economista Daniela Freddo, professora do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), foi procurada para explicar questões sobre o funcionamento do Pix e os impactos nas instituições financeiras.
Por fim, o Comprova tentou contato com o youtuber Bernardo Küster, autor do post, pelo Twitter.
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Leonardo Rodrigues/InstoÉ – Divulgação: scctv.net.br/Rádio Giramundoweb/@Giramundoweb