O dólar fechou em forte alta de 0,95% nessa terça-feira (29), cotado a R$ 5,762, após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmar que não há previsão para fechar conjunto de medidas de contenção de gastos, prometido para depois do segundo turno das eleições.
Essa é a maior cotação para a moeda americana desde 19 de maio de 2020, quando fechou em R$ 5,761. Na máxima da sessão desta terça, chegou a R$ 5,766.
Já a Bolsa fechou em queda de 0,31%, aos 130.793 pontos, segundo dados preliminares.
Em entrevista a jornalistas, Haddad afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pediu mais dados sobre as propostas e que a Fazenda está fornecendo as informações.
Segundo Rubens Cittadin, operador de renda variável da Manchester Investimentos, a declaração do ministro reforça a “demora em adotar medidas fiscais mais responsáveis”.
“O perfil fiscal expansionista do governo não agrada ao mercado, especialmente no que se refere ao cumprimento das metas de inflação.”
Matheus Massote, especialista em câmbio da One Investimentos, afirma que o fato do pacote fiscal ainda precisar da aprovação de Lula pode “dificultar o processo e afastar a concretização das medidas”.
“O surgimento desses rumores foi o que movimentou os preços no início da tarde, levando o dólar a ultrapassar os R$ 5,76. Esse cenário gerou um descolamento ainda maior do real em relação a outras moedas de países emergentes”, afirma. O real foi a moeda que mais se desvalorizou entre as principais do mundo nesta terça.
A equipe econômica vinha indicando que medidas concretas para reduzir despesas seriam anunciadas em breve, uma expectativa crescente entre os investidores para alcançar uma estabilidade das contas públicas.
Parte das pressões ainda veio do exterior. O relatório de emprego dos Estados Unidos, o Jolts, mostrou que as vagas em aberto caíram em 418 mil, para 7,443 milhões no último dia de setembro o nível mais baixo desde janeiro de 2021.
Esse cenário sinaliza uma retração na demanda por mão de obra, reforçando a visão de que o mercado de trabalho está perdendo força.
Analistas acreditam que os dados do mercado de trabalho podem influenciar o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) em sua decisão de política monetária, marcada para semana que vem, entre os dias 5 e 6 de novembro.
José Alfaix, economista da Rio Bravo, aponta que “a queda nas demissões voluntárias reflete uma maior cautela dos trabalhadores para mudar de emprego, reforçando a perspectiva de desaceleração econômica”.
Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, destaca que a desaceleração no mercado de trabalho “pode justificar a continuidade dos cortes de juros pelo Fed para apoiar o crescimento”.
Outra divulgação movimentou o mercado nesta terça. A confiança dos consumidores dos Estados Unidos subiu para o maior patamar em nove meses em outubro, em meio a uma melhor percepção sobre o mercado de trabalho.
O Conference Board informou que o índice de confiança do consumidor subiu de 99,2, em setembro, para 108,7 neste mês.
A expectativa em torno das eleições presidenciais americanas também foi destaque. Na disputa entre o ex-presidente Donald Trump e a vice-presidente Kamala Harris, o mercado aponta uma maior probabilidade de vitória para Trump, com chances de 66% de retorno à Casa Branca, segundo a plataforma Polymarket.
As promessas econômicas de Trump incluem aumento tarifário sobre as importações, especialmente as chinesas, e um possível corte de impostos medidas que são vistas como inflacionárias e que podem influenciar o Fed a manter juros elevados por mais tempo.
“O mercado espera uma vitória de Trump, que, por diversos fatores, tende a fortalecer o dólar durante seu mandato e a manter a inflação e os juros elevados por mais tempo. Kamala, por outro lado, sem o apoio do Senado, provavelmente enfrentaria limitações para implementar mudanças significativas, o que manteria o dólar em um patamar um pouco mais baixo em relação a outras economias”, afirma Keone Kojin, economista da Valor Investimentos.
Aqui, a trajetória da taxa básica de juros do país, a Selic, também é observada de perto. O Copom (Comitê de Política Monetária) do BC irá se reunir na semana que vem, também entre os dias 5 e 6 de novembro, para decidir sobre o patamar da taxa.
O colegiado reiniciou o ciclo de altas na reunião de setembro, quando optou por um aperto de 0,25 ponto percentual e levou os juros ao patamar de 10,75% ao ano. Desde então, os dirigentes têm reforçado que as próximas decisões estão à mercê dos dados econômicos, em especial os de inflação.
Considerado uma “prévia” da inflação oficial do país, o IPCA-15 acelerou a 0,54% em outubro, após marcar 0,13% em setembro. O resultado ficou acima da mediana das projeções de 0,51%, e levou o acumulado de 12 meses a acelerar para 4,47%. A taxa era de 4,12% no mês anterior.
A meta do Copom é de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. Ou seja, na leitura atual, o IPCA-15 está bem próximo ao teto da meta, de 4,50%.
No Boletim Focus desta segunda, analistas consultados pelo BC ainda subiram pela quarta semana consecutiva as projeções para o IPCA neste ano, com a expectativa agora ultrapassando a banda máxima da meta, a 4,55%.
O mercado espera um movimento mais agressivo do BC na semana que vem e projeta alta de 0,50 ponto percentual na Selic.
As curvas de juros futuros ainda têm subido por causa das pressões fiscais, indicando pessimismo do mercado em relação à trajetória das contas públicas um dos focos de pressão inflacionária.
História de VITOR HUGO BATISTA E TAMARA NASSIF / Folhapress
Divulgação: scctv.net.br / Rádio Giramundoweb / @giramundoweb
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